Arquivo do mês: julho 2009

Por aí

Ando pelo meio-fio meio

sem jeito para o próximo

passo, quem sabe cair da

calçada para a rua – buraco

do mundo, rua de enxurrada

de levar tudo pra longe, bem

longe, onde tudo termina

perdendo senso, direção,

fim. Quem sabe cair da

calçada para dentro de

casa essa casa oca, ideia

de casa plantada na terra

de ninguém, mas ninguém

mesmo: só eu, no meio-fio,

entre essas e outras curiosas

hipóteses.

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Especular

Talvez você nem seja:

eu que nem sou nem

sei.

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Noitemanhã

A este sonho chamo fuligem.

Resta de ter-me queimado,

resta de terem meus ossos

ardido no vão da noite.

.

A este solo chamo cascalho.

Resta de ter o meu corpo

desembestado de pedras,

deixado no pó da estrada.

.

A este carro chamo infinito.

Resta de haver o transporte

levado a minha vontade

de estar em qualquer lugar.

.

A esta casa chamo janela.

Resta de ter-se aberto

o sentimento das coisas,

as ânsias do amanhecer.

.

(Procurando coisas aqui nesse caos de papelada & afins, achei esses versos de mais de dez anos. Faz tempo!)

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Diamante

Todas as histórias aliás eu vivi

como numa seqüência de teatro

ingênuo: com um certo modo

histriônico e exagerados,

caricatos esgares ou efusivas

carícias a pleno palco: todas

as histórias do mundo tão iguais,

parecidas demais com o que

pudesse talvez entreter o

auditório de tanta gente

feliz infeliz a um só tempo.

Todas as histórias condensadas

em um instante, eu as fiz de

pedra mais dura que o duro

coração de palavras apartadas

dos homens. Só assim pude

saber o que era, o que fui, o que

seria: aliás esqueci.

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A criança insiste

Talvez fosse tão cedo quando nos

despedimos da infância – e ela

tenha ficado, afinal, com aquela

ânsia tão conhecida por continuar

nas coisas desse jeito sem

rodeios das crianças quando são.

Talvez por isso tenhamos sentido,

todos os dias desde esse dia,

algo como um súbito desejo

irrefreável de deixar a criança

decidir.

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Homem-lobo (para Bernardo Guimarães)

LuaLoboCrédito da imagem

Cheiro da lua,

fuça meu corpo,

ando sonhando

que nem um bicho.

Cheiro das eras,

era uma vez, era uma

lualucinação.

(Essa foi inspirada no conto do lobisomem cagão, de Bernardo Guimarães, do blog Notícias do interior)

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Troia

visão noturna 008

Queimando, ardendo de febre

a cidade se deixa, vencida,

crua com seus filhos, com suas

infinitas epopeias, comédias,

tragédias, novelas, novelas.

Toda gente é comum,

a cidade se espraia por todo o

perímetro interminável de um

sonho, de um pesadelo, de um

silêncio da consciência, tudo o

que diz a parafernália de

carruagens de fogo do

guerreiro destemido

desbravador de praias, de

montes, de rios, a cidade

fundada sobre camadas e

camadas de qualquer coisa

de insondável, o lençol de águas,

de magmas, o corolário de rochas,

de areia, de terra preta de índio,

cacos de outro mundo que foi-se,

foi-se a cabeça voando

pros quintos, e eis o corpo tão

denso, mestiço, bela morena,

morena bela, sambando

sambando,.nova razão, eis

a nova razão que se cumpre:

um fantasma se agita, a cidade

prefigura o destino como

toda humanidade a se ver,

enfim, no espelho de sereia

dessa velha encarnação

do poema: cidade-fêmea.

Assoalho de madeira que range

sob os pés de tantos e tantas,

e tantos e tantas, e tantos.

Luz, a cidade clama por

luz, e a recebe como um

artefato de carnaval, um

auto de fé: tremeluz a cidade

se rende ao fato de que toda

energia se dissipa: não haverá

homens e mulheres como nós,

mas haverá muitos mais do

que nós. Haverá festas

e funerais. Ninguém, no entanto,

poderá dizer ao longo

do tempo que tenhamos errado

por amá-la de tal forma: à cidade

dormindo acordada, corpo sutil

estendido na areia, lambido

por todas as ondas e todos

os ventos e tudo: a natureza

revolta do seu corpo quente

como febre que arde, arde em fé

e em vigília, e não passa.

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A invenção de Gusmão

P1030422 RZ

Kátia Borges levantou a bola: então será que estamos fazendo história com o hotblog para o lançamento dos livros, com direito a reserva e tudo? Se for assim, trata-se portanto de lançamento triplo: dos livros, de Maria e meu, e da estratégia de agitar na internet, bolada por Marcus Gusmão pra fazer com que o dia 1º de setembro comece dois meses antes e os blogs invadam a Tom do Saber e vice-versa, criando um fuzuê dos diabos entre o virtual (o que virá a ser, que fique claro!) e o real (do qual é sempre bom duvidar um pouco, acrescento).

E, como o negócio é marquetingue, sugiro que você, que chegou até aqui, entre correndo no blog-novidade, dê uma passeada por lá e faça sua reserva. E volte de vez em quando, que até o dia D vamos transmitir muita novidade, que aliás é o que se espera de um puta hotblog pra agitar um puta evento cultural.

Rapaz!!!

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Super-homem

1220887882Crédito da imagem

Ele vem de um curioso

planeta, onde é sempre

agora.

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Karma 2.0

1.

Sou um homem,

karma de onde:

desterro.

Horas gozo,

horas erro.

.

2.

Sou um homem,

karma de onde:

desterro.

Horas gozo,

horas erro.

5 Comentários

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