Talvez um dia essa história de Susan Boyle seja lida como um marco, o ponto de virada em mais uma etapa da configuração da aldeia global. Etapa que passa pela web 2.0.
Tipo o 11 de setembro. Claro que você se lembra de onde estava quando soube da bagaceira, lá em NY. Eu liguei do trabalho pra Emília: “filha, começou a terceira guerra mundial!!!”.
Com o caso de Susan Boyle: eu tava no carro na quinta, 23, e ouvi o comentarista da Bandnews. Ele dizia que, se eu não tinha ouvido falar nela, devia ter passado as duas últimas semanas em Marte. Pois é. Pode ser. O tom era sentimental. Sentimental eu sou: vieram lágrimas, e eu sei lá de onde vieram. Efeito melodrama? Pode ser. Pois é.
O vídeo de Susan no programa, sua via crúcis de desdém por parte de público & jurados, sua ingenuidade, sua apoteose com uma voz de poder surpreendente: artes da produção? Pode ser, mas é fato consumado, estava criado um novo culto contemporâneo.
Diria talvez, à Jabor: quem sabe aquele vídeo não vire uma espécie de Evangelho, com as pessoas a passarem e repassarem a cena da crucificação e da ressurreição da moça desengonçada que se tornou um espírito de luz graças à voz abençoada? Mas em verdade vos digo: e se não tivesse a voz abençoada, o que seria de Susan? Meu deus, afinal pra que serve uma voz abençoada?
Mudando de registro: e afinal o Youtube cria o seu grande avatar. Ela vai gravar um CD e vender como água, até foi convidada pra estrelar um filme pornô. Sua voz passou pelo crivo da mídia especializada. Eis um bom tema para mesas de bar e afins: afinal tem muita gente boa dizendo que os blogs estão vulgarizando a produção intelectual e artística, etc, etc.
Meio apocalíptico, meio integrado, acho (achar, eis um verbo proibido na mídia oficial e liberado cá entre nós) o seguinte: tem muita baboseira na web, é verdade, mas esses que estão aí, dizendo que só tem baboseira, já perderam o bonde: eles passarão, nós passarinho.
Não, não estou me identificando com Susan Boyle. Só defendendo o fenômeno que fez explodir – e redimir – uma moça condenada à obscuridade, a ser olhada como se não tivesse aquela voz abençoada.
E eis a resposta: serve pros mesmos objetivos de um talento pra fazer grana, pra liderar, pra seduzir. Uma voz abençoada é como o rosto bonito que falta a Susan. Todos precisamos de um atributo desses, em menor ou maior escala, pra sobreviver nessa bendita civilização!!!
Achou piegas o que acabei de dizer? Que seja. Mas afinal em que planeta você passou as duas últimas semanas???